Quaresma: Tempo de conversão e esperança, não de tristeza

26 de fevereiro de 2020

 

Quando eu era criança, o tempo da Quaresma era um período triste onde as pessoas ficavam mais sérias, quase tristes, onde não se ouvia música ou se fazia festa, parecia até um tempo de castigo por alguma coisa que fizemos e não sabíamos o que.

 

Os anos se passaram e aquela tristeza e austeridades foram sendo diluídas nas dobras do tempo, ao ponto que nos dias de hoje, da quarta feira de cinzas até o Primeiro Domingo da Quaresma, o carnaval está à todo vapor.

 

O Tempo Litúrgico da Quaresma não é um tempo de tristeza, mas um tempo de reflexão. Neste período acompanhamos Jesus nos quarenta dias em que Ele jejuou e foi tentado no deserto, mergulhamos no mistério de sua Paixão, para com Ele morrer e com Ele ressuscitar no Terceiro dia.

 

Antigamente o clima quaresmal vinha de fora pra dentro como uma imposição do meio, hoje é feito um caminho inverso, o clima meditativo e oracional nasce do coração e da intimidade com Deus, onde buscamos viver uma empatia maior com o Cristo Filho Heroico do Pai, refletindo sobre sua entrega total na Cruz e relacionando-a com nossa cruz pessoal. Daí nasce a necessidade de um silêncio interior, de propósitos penitenciais, de se retirar alguns supérfluos e confortos do ordinário da vida para que o essencial apareça e possamos enxergar o extraordinário nele. Não é necessário que fiquemos tristes ou com o rosto sisudo, mas precisamos esvaziar um pouco o coração para que ele seja preenchido com novas experiências quaresmais que irão ser a matéria prima para as dádivas da celebração da Páscoa.

 

Iniciamos a nossa caminhada na quarta-feira de cinzas, e o gesto da imposição de cinzas nos remete a nossa fragilidade humana, nossa pequenez, lembrando-nos que viemos do pó e ao pó voltaremos. A caminhada quaresmal vai crescendo e se desenrolando num compasso que nos leva à semana maior, a Semana Santo, e é coroada com o Tríduo Pascal.

 

 

O Padre José Kentenich nos ensina sobre como vivenciarmos melhor este tempo:

Ainda ressoam em nós as palavras do sacerdote ao tocar nossa testa com a cinza: “Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris. – Recorda-te que és pó e em pó te hás de tornar”. Uma palavra antiga, muito conhecida, válida por todos os tempos, em todas as regiões. Válida para todos; válida também para nós. Sim, para nós que durante o ano demos tanta importância a aumentar nossos bens. Para nós, que nos ocupamos continuamente com nosso corpo e os cuidados pelo seu bem estar, sua saúde e sua beleza. Válida para os que receberam pelo rádio, pela televisão e pela imprensa incontáveis e convincentes recomendações sobre a cultura do corpo. Um dia, porém, o corpo a que dedicamos tantos cuidados será novamente reduzido a pó: voltará à substância e à matéria de que proveio. Recorda, pois, que és pó e em pó te hás de tornar!

 

São sérias estas palavras que ressoam na nossa alma. A Igreja orienta-nos a não volvermos tanto nossa atenção para o corpo e a que não nos concentremos quase exclusivamente nos nossos negócios, durante as próximas semanas. Voltemos nosso olhar ao alto. Sursum corda! – Ao alto os corações! Olhemos ao alto! Durante a Quaresma, coração e olhar fixam-se particularmente com grande e ardente amor na grande cena do Gólgota. E quando os sinos anunciam o sermão da Quaresma, ressoa em nosso espírito e em nosso coração a palavra de Jesus: “Quando eu for erguido da terra, atrairei todos a mim!” (Jo 12,32)

 

Assim explico vossa numerosa presença neste lugar sagrado. A grande imagem do Gólgota, com Jesus crucificado representada no coro de nossa Igreja da Santa Cruz domina nosso campo de visão. Muitas vezes contemplamos esta imagem sem refletir sobre ela, como fazemos com outras coisas na vida diária: o que vemos frequentemente não nos impressiona. Mas nas próximas semanas esta imagem deve gravar-se em nossas almas a ponto de se tornar parte de nossa vida diária, de ser encarnada e assumir forma e vida.

 

O crucificado não se cansa de nos atrair a si com força irresistível. Faz-nos esquecer dos afazeres de cada dia. Convida-nos a vir à Igreja para escutar suas palavras e responder ao chamado e convite do seu amor.

 

(Pe. José Kentenich trecho do Sermão da Quarta-feira de Cinzas – 1954)

 

Aproveitemos cada momento deste tempo santo e fiquemos alertas aos acenos do Bom Deus que nos ama e nos educa como um Pai amoroso. “O Esposo em mim ajuda a carregar, (a cruz) a Mãe vigia: assim sempre somos três.” (RC 396)

 

“O universo, com alegria, dê glória ao Pai, no Espírito Santo, em seu esplendor, louve-o por Cristo e com Maria, agora e na eternidade. Amém. (RC Ofício de Schoenstatt)

 

 

Por Kennedy Rocha

* Kennedy Rocha pertence ao Ramo da Liga de Famílias de Schoenstatt do Santuário Tabor da Liberdade

 

Imagem de Fabiana Alves de Oliveira – Fotografia Religiosa

 

Compartilhe

© 2025 Schoenstatt. Todos Direitos Reservados

Weblite