O vento sopra onde quer!

6 de julho de 2019

 

“O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito”. ( João 3,7-15)

 

 

O Espírito Santo é força, é dínamos, é sopro e movimento. Muitas vezes nos equivocamos clamando o Espírito Santo e esperando que as coisas fiquem do mesmo jeito, ou clamamos o Espírito Santo e não queremos sair da nossa zona de conforto. Como aconteceu com o Profeta Jonas. Ele foi escolhido pelo Deus de Israel para ser profeta, anunciando um tempo de conversão, porém Jonas teve medo e se escondeu, fugiu da presença de Deus e não quis ir para Nínive anunciar a conversão. Quando menos esperava, Jonas se encontrava em Nínive anunciando a palavra de conversão que transformou toda aquela cidade. 

 

“O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito”, foi assim que Jesus explicou a Nicodemos. Se clamamos o Espírito Santo e abrimos o coração para que Ele aja em nossa vida, nos preparemos para uma mudança, pois Ele vem para renovar todas as coisas. O Padre José Kentenich sempre clamava “Espírito Santo, tu és a alma de minha alma. Cheio de humildade te adoro. Ilumina-me, fortifica-me, guia-me e consola-me. Revela-me tanto quanto isso ao plano do Eterno Pai corresponde.”

 

 Ele se colocava à disposição do Espírito de Deus para que o abrasasse, soprasse e levasse onde fosse a Sua vontade, e assim aconteceu. Ele percorreu vários países anunciando o Reino de Deus através do amor a Mãe Três Vezes Admirável. Ele permitia que o seu coração de Pai e Fundador fosse moldado segundo a Fé Prática na Divina Providência. Se refletirmos em cada Marco Histórico de Schoenstatt, veremos que sempre o Pai se permitia ser guiado pelo Espírito Santo, e via nos sinais dos tempos a mão do Bom Deus.

 

 

1º Marco Histórico: 18 de outubro de 1914 – Fundação do Movimento de Schoenstatt.

 Não seria possível que agora a capelinha da nossa Congregação se tornasse também o nosso Tabor, no qual se revela as glórias de Maria? Não podemos, sem dúvida, realizar uma ação apostólica maior, não podemos legar aos nossos sucessores uma herança mais valiosa, do que mover Nossa Senhora e Rainha a estabelecer aqui, de maneira especial, o seu trono, a distribuir os seus tesouros e a operar milagres da graça. Imaginais onde quero chegar: gostaria de transformar este lugar num lugar de peregrinação, num lugar de graças para a nossa casa, para toda a província alemã e talvez para ainda mais além. Todos os que aqui vierem para rezar, devem experimentar as glórias de Maria e confessar: Aqui é bom estar. (1º Doc. Fundação)

 

 Desde o início, o Espírito Santo já soprava o Padre Kentenich por caminhos que ele desconhecia, mas ele tinha um grande anseio, fazer a vontade do Bom Deus e se deixar guiar pelo seu sopro. E assim começou a Obra Internacional de Schoenstatt, com grandes desafios e instrumentos pequenos e limitados, mas que desejavam ser educados para se tornarem aptos nas mãos da Mãe Três Vezes Admirável.

 

 

2º Marco Histórico: 20 de janeiro de 1942 – Sua liberdade exterior pela liberdade interior da Família.

 Pe. Kentenich recorda anos depois:

“Hora após hora, andava os poucos passos, de um lado para o outro, na cela da prisão. Lutava, rezava e não sabia o que fazer… Chegou o dia 20 de janeiro. Eu lutara comigo mesmo durante toda a noite, para reconhecer a vontade de Deus. Finalmente obtive clareza; não vou assinar o requerimento para o médico! Se tenho a escolha, seja para mim morte e correntes, mas para a Família a liberdade! Tinha-me decidido. Não queria ser libertado através de meios humanos. Na missa, (celebrada clandestinamente) na manhã de 20 de janeiro, entreguei de livre vontade a Deus toda a minha liberdade… Foi um dos momentos mais difíceis na minha vida… Recebi muitas cartas, inclusive de sacerdotes. Como fiquei humanamente tocado com tudo aquilo!… De vez em quando, brotavam-me algumas lágrimas dos olhos! Dei graças a Deus pelos meus óculos”.

 

 O Pai tem uma grande decisão para tomar, assinar o requerimento para um novo exame médico que poderia libertá-lo do Campo de Concentração ou confiar cegamente que a Mãe de Deus teria um propósito para ele naquele inferno. Para onde o Espírito o soprava? “Não queria ser libertado através de meios humanos”.

 

 Então o Pai Fundador aceita, livremente, entregar toda a sua liberdade à Deus, confiando que Ele realizaria a Sua vontade, oferece sua liberdade exterior pela liberdade interior da Família. Nos anos em que esteve no Campo de Concentração de Dachau, Deus realizou uma obra maravilhosa através do sim deste sacerdote, foi fundada a Obra das Famílias, os Irmãos de Maria, além de inúmeras conferências e ainda a ordenação sacerdotal do Bem-aventurado Karls Leisner.

 

3º Marco Histórico: 31 de maio de 1949 – Uma cruzada do pensar, viver e amar orgânicos.

 

No dia 31 de maio de 1949, o padre José Kentenich colocava sobre o altar do Santuário de Bellavista, em Santiago no Chile, a primeira parte da Epístola Perlonga, carta enviada aos bispos alemães, onde o Pai Fundador defendeu o pensar (orgânico) e os princípios da sua fundação contra as objeções da visita episcopal de fevereiro de 1949 em Schoenstatt, na Alemanha. Nesta carta, ele cita que no clero alemão reinava o pensamento mecanicista e isso era um grande risco para a igreja, que desde sua origem era orgânica. Neste dia, o padre Kentenich profere uma homilia no Santuário chileno, algo semelhante a dar um “salto mortal” que resultou no exílio de 14 anos, que quase levou a proibição da Obra.

 

Na sua homilia ele dizia que:

“(15)O que agora escrevi ao episcopado alemão deverá causar feridas. Neste sentido, caminhamos com grande risco. Quem é que se arrisca a apresentar-se diante das autoridades eclesiásticas da forma como o fazemos por meio deste trabalho tão transcendente? Uma coisa assim pode dar muito maus resultados. Mas quem tem uma missão deve ser-lhe fiel e cumpri-la. Missão de profeta traz sempre consigo destino de profeta. Quem tem uma missão deve permanecer-lhe fiel e entregar-se a ela. Para isso está a grande Obra de Schoenstatt! Vemos o Ocidente cair em ruínas e vemos surgir daqui uma contracorrente. (16) Quando recordo como tudo aconteceu… Tudo é um enorme presente que Deus me deu: a maneira de pensar orgânica, em oposição à maneira de pensar mecanicista. Esta foi a luta pessoal da minha juventude. Nela pude lutar até vencer aquilo que hoje abala o Ocidente até às suas raízes mais profundas. Deus deu-me uma inteligência clara, e por isso tive de passar durante anos por provas de fé. O que me conservou a fé durante todos esses anos foi um amor profundo e cálido a Maria. O amor a Maria oferece sempre, por si só, esta maneira de pensar orgânica.(…) (18) A missão inequívoca de Schoenstatt para o Ocidente, especialmente para a nossa pátria(Alemanha), frente ao coletivismo que avança poderosamente e tudo destrói, encontra-se diante de um muro que só pode ser derrubado, efetivamente e em grande escala, quando o referido bacilo for vencido e afastado. (19) (…) Não nos devemos admirar se isso gerar uma frente de homens cheios de influência, uma frente comum poderosamente unida, contra mim e contra a Família. (Trechos da homilia proferida no Santuário de Bellavista, 31/05/1949)

 

 O Espírito Santo levou o Pai Fundador em muitas visitas missionárias pela Europa, África e pelas Américas, e em uma destas visitas o inspira e redigir a Carta que o levaria ao exílio. Era a defesa do pensamento orgânico contra o coletivismo mecanicista que sufocava o homem moderno. 

 

O salto no escuro levou o Padre Kentenich ao exílio de 14 anos em Milwaukee, Estados Unidos, e lá o Espírito Santo continuou a soprar e abrasar o coração do nosso Pai. Neste tempo surgiu a corrente de vida do Santuário Lar, trazendo para dentro das famílias as graças próprias do Santuário de Schoenstatt. 

 

Certa vez o Pai disse: O Santuário jamais pode ser destruído!… Os comunistas podem fechar todas as Igrejas Católicas, podem fechar nossos Santuários de Schoenstatt, inclusive, podem ordenar que sejam destruídos, mas o Santuário-Lar não podem tocar, nem eles nem outros inimigos de Deus, ninguém pode destruir o Santuário-Lar!

 

 

4º Marco Histórico: 22 de outubro de 1965 – A Reabilitação – O Pai volta para a família.

Com os “novos ventos” que invadiram a Igreja, estava preparado o terreno para que, finalmente, a Igreja hierárquica pudesse entender o carisma de Schoenstatt e a profecia do seu fundador. No dia 22 de outubro de 1965, às vésperas do final do Concílio, o Papa Paulo VI assinou o decreto em que se suspendiam as acusações e se reabilitava o Padre José Kentenich. Uns dias depois, o Papa o recebeu em audiência e o Fundador lhe prometeu “a colaboração de Schoenstatt para a realização da missão pós-conciliar da Igreja”. Apesar da mobilização de bispos e cardeais, as circunstâncias demonstraram que, mais que obra humana, sua reabilitação foi um milagre e uma graça da Mãe Três Vezes Admirável, a quem consagrou sua vida e sua Obra. Já com 80 anos de idade, ele pôde retornar a Schoenstatt, às margens do Reno, na Alemanha, onde passou os últimos três anos da sua vida trabalhando intensamente pela obra que Deus lhe havia inspirado. (Pe. Alexandre Awi Mello –Dilexit Ecclesiam: o quarto marco histórico

 

Após os 14 anos de obediência no exílio, como o Servo Sofredor de Isaías (Is 52), que apesar das injustiças e blasfêmias, não abriu a boca para reclamar ou se defender, mas manteve-se em paz, confiando na Divina Providência, realizando a sua missão e mantendo-se firme em suas convicções, o Pai Fundador é reabilitado.

 

 O Vento do Espírito que o soprou por todo o mundo, o sopra de volta para casa, para a “terra maravilhosa, o prado de sol no brilho do Tabor, onde nossa Senhora Três Vezes Admirável impera no meio de seus filhos prediletos e retribui fielmente todos os dons de amor, revelando sua glória, sua infinda e rica fecundidade: a sua terra natal, a sua terra de Schoenstatt!”  

 

Às vezes estamos como os Apóstolos, “com as portas fechadas por medo”, às vezes não conseguimos enxergar o Senhor Ressuscitado nas diversas situações da nossa vida, mas mesmo com as portas do coração fechadas, Ele entra e nos diz: “A paz esteja convosco!” Ele nos sopra o Seu Espírito e renova a face da terra. Vamos nos abrir à ação do Espírito Santo e deixemos que Ele aja em nós e através de nós. A humanidade precisa ser restaurada e abrasada pelo Fogo do Céu. Que possamos ir onde o Espírito do Senhor nos soprar, com amor e em obediência, seguindo o exemplo de nosso Pai e Fundador. “Dá-nos arder como labaredas, ir com alegria, ao encontro dos povos, lutar como testemunhas da Redenção e conduzi-los jubilosamente à Trindade.” (Rumo ao Céu 12)

 

 Agora chegou a nossa vez, chegou a nossa hora. É como se o Pai Fundador nos perguntasse:

 

Você vai comigo?

Você vai se deixar ser abrasado pelo mesmo Espírito que abrasou o meu coração?

Você vai se deixar levar pelo Vento do Espírito?

 O universo, com alegria, dê glória ao Pai, no Espírito Santo, em seu esplendor, louve-o por Cristo e com Maria, agora e na eternidade. Amém. (Rumo ao Céu Ofício de Schoenstatt)

 

 

 Por Kennedy Rocha

 * Kennedy Rocha pertence ao Ramo da Liga de Famílias de Schoenstatt do Santuário Tabor da Liberdade

 

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