O Jardim de Maria

11 de outubro de 2018

 

ARTIGO – Mais que uma expressão bonita e terna, o Jardim de Maria é uma expressão de fé dentro da Família de Schoenstatt. Tudo começou na II Guerra Mundial. No dia 20 de setembro de 1941, o Pai e Fundador de Schoenstatt foi detido pela Polícia Secreta Alemã (Gestapo) por ser considerado perigoso para o regime Nazista que dominava a Alemanha.

 

Por ocasião do Natal, no dia 22 de dezembro, celebrou-se no hospital de Coblença a festa de Natal dos funcionários e dos doentes. A Irmã Mariengard, fortemente impressionada pelo contraste entre esta celebração e a situação do Pe. Kentenich na prisão, decidiu escrever uma carta ao Menino Jesus pedindo-lhe, como presente, a liberdade do Fundador e Pai Espiritual da Família de Schoenstatt: “Tu não poderias, quando desceres a terra na noite de Natal, enviar um Anjo ao Pai?” O Anjo deveria preparar o caminho de Pe. Kentenich para Schoenstatt, ao Santuário da Mãe de Deus, para que lá pudesse contemplar o milagre da Noite Santa. Mais tarde se falaria do regresso do Pe. Kentenich da prisão como um “novo milagre da Noite Santa”.

 

A Superiora do Hospital São José, que encontrou a carta na caixa de correspondência, achou, não sem razão, que estas linhas haveriam de causar alegria ao Pe. Kentenich. Por isso enviou-a com outros presentes a prisão. O Pe. Kentenich não só se alegrou com a carta, mas, como já se dera algumas vezes com coisas aparentemente insignificantes, considerou-a um sinal da Divina Providência e escreveu uma resposta à Irmã, como se o remetente fosse o Menino Jesus. Fazendo um pequeno jogo de palavras com o nome da Irmã, Mariengard, relacionou-o com Mariengarten (Jardim de Maria) e escreveu: “Minha pequena e querida Mariengard: realizarei teu desejo quando teu coração e o coração de toda a Família se tornar um florescente jardim de Maria. Assim, o cumprimento de teu pedido, “o Milagre da Noite Santa”, está em tuas mãos, nas mãos dos filhos de Schoenstatt. Apressai-vos para que não seja tarde de mais…”

 

Neste breve texto o Pe. Kentenich disse claramente: Sua libertação será uma obra da graça divina; mas Deus a fez depender da vida e da aspiração de seus seguidores, do seu esforço para realizar o ideal da liberdade dos filhos de Deus como transparece na grande filha de Deus, a Mãe de Jesus. Pe. Kentenich reveste esta condição na forma da antiga imagem do jardim de Maria, usada pelos místicos: “Quando o teu coração e o coração de toda Família se tornar um florescente jardim de Maria.”

 

Pe. Kentenich proferiu aqui uma palavra que encontraria grande eco e que desencadearia um desenvolvimento profundo, “Jardim de Maria” tornou-se a senha, sob a qual a comunidade das Irmãs de Maria resumiriam sua luta pela liberdade, como condição pela libertação do Fundador.

 

A partir do dia 26 de dezembro surge uma grande aspiração comum de todas as Irmãs de Maria do Hospital de Coblença pela libertação do Fundador. Assim o confirma o Pe. Kentenich numa carta escrita da prisão: “Deus nos quer a todos inteiramente para si, pelo heroísmo das virtudes teologais, assim como as deve corporificar o “novo homem”. Minha e nossa sorte estão enlaçadas indissoluvelmente, desde anos… Vós podeis crescer por mim e, desta vez, vosso crescimento é o preço de resgate para minha libertação. Assim, aparentemente, eu estou em primeiro plano. Olhando mais precisamente, sois vós a quem Deus visa: vosso crescimento. Certamente vosso crescimento é minha felicidade e meu orgulho. Somos inseparáveis em nossa vida e em nossa sorte. Isto também entra mais em consideração do que em outras oportunidades, que considereis minha pessoa como símbolo de toda a Família. Estou aqui para a Família. E minha liberdade é carta de libertação para toda a Família”. (Novena Livre em algemas)

 

No dia 20 de janeiro de 1942, o Pe. Kentenich toma uma das decisões mais difíceis de sua vida. Por possuir uma limitação pulmonar, ele poderia solicitar um novo exame médico que poderia declarar que ele era inapto para os trabalhos no Campo de Concentração de Dachau, porém o Pe. Kentenich não assinou o pedido de novo exame, ele dizia que não queria ser libertado por arranjos humanos, mas sim pela Mãe de Deus. Pe. Kentenich recorda anos depois: “Hora após hora, andava os poucos passos, de um lado para o outro, na cela da prisão. Lutava, rezava e não sabia o que fazer… Chegou o dia 20 de janeiro. Eu lutara comigo mesmo durante toda a noite, para reconhecer a vontade de Deus. Finalmente obtive clareza; não vou assinar o requerimento para o médico! Se tenho a escolha, seja para mim morte e correntes, mas para a Família a liberdade! Tinha-me decidido. Não queria ser libertado através de meios humanos. Na missa, (celebrada clandestinamente) na manhã de 20 de janeiro, entreguei de livre vontade a Deus toda a minha liberdade… Foi um dos momentos mais difíceis na minha vida… Recebi muitas cartas, inclusive de sacerdotes. Como fiquei humanamente tocado com tudo aquilo!… De vez em quando, brotavam-me algumas lágrimas dos olhos! Dei graças a Deus pelos meus óculos”.  Este dia é conhecido como Segundo Marco Histórico de Schoenstat – Confiança Divina.

 

O jardim de Maria é um aprofundamento da nossa Aliança de Amor. Cultivar o Jardim de Maria em nosso coração é um desejo de ser semelhante à Maria, é pedir a Mãe: Clarifica-te em nós. É buscar cultivar as virtudes de Maria em nosso coração, como se fossem flores, as flores que José Engling oferecia em seu ramalhete espiritual. Ou seja, o Jardim de Maria em meu coração é um jardim de virtudes da Mãe de Deus em nosso coração, para o nosso crescimento, amadurecimento e liberdade, sendo assim toda a Família será mais livre e santa.

 

Porém se o Jardim de Maria não se converte em solidariedade é como um jardim de flores de plástico, ele é bonito, mas não tem vida.

 

A Mãe de Deus foi livre para acolher o plano do Pai em sua vida, e dentro desta liberdade se fez a Serva do Senhor para que se cumprisse nela a Sua vontade. Assim também somos convidados a oferecer ao bom Deus, sem constrangimento, a nossa liberdade para que Ele faça em nós a sua vontade. Como nos ensinou o Pai Fundador: “A minha liberdade pela liberdade da Família.”

 

Muitas vezes me questiono: Se a vontade de Deus é boa, perfeita e agradável (Rm 12,2), porque nós temos tanto medo de entregar-lhe nossa liberdade? Porque não confiamos cegamente em seu amor? Porque temos dificuldades de cultivar o Jardim de Maria em nosso coração?

 

Nós queremos ter o domínio da situação, queremos ser os donos do jogo.

 

Nós vivemos limitados pelo tempo e pelo espaço, Deus vê a eternidade. Nas entrelinhas dos acontecimentos Deus vai nos educando, nos mostrando a sua vontade. Mas como enxergar esse desejo de Deus para nós? O Pai Fundador também nos responde, “é preciso estar com o ouvido no coração de Deus e a mão no pulso do tempo.” Nós vivemos o nosso dia a dia correndo, como se estivéssemos sempre atrasados e por isso não conseguimos enxergar os sinais que Deus nos dá a todo tempo. Nós precisamos desacelerar, respirar, viver um dia de cada vez, e assim colocar os ouvidos em posição de escuta para discernir a voz de Deus no mundo. Precisamos ter sempre no coração a certeza que “Deus é Pai, Deus é bom e bom é tudo o que Deus faz.” Não precisamos ter medo de entregar nossa liberdade para Ele, pois seu amor é infinito, incondicional e eterno.

 

O que Deus nos pede hoje? Quais flores devo cultivar no Jardim de Maria do meu coração?

 

Fontes : Como viver o 20 de janeiro hoje, Karen Bueno – www.Schoenstatt.org.br

Novena livre em algemas

 

Texto: Kennedy Rocha

 

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