“Com Maria nós vamos bem mais longe, tão longe que a gente só pode parar no céu”
Homilia de D. Otacílio na celebração do Jubileu dos 50 anos de falecimento do Pe. Kentenich
No sábado, 15 de setembro, data que a Família de Schoenstatt celebrava os 50 anos de falecimento de seu fundador, Pe. José Kentenich, a Arquidiocese de Belo Horizonte/MG abriu as portas de sua catedral para a Família de Schoenstatt do Tabor da Liberdade. Dom Otacílio de Lacerda, arcebispo auxiliar da Região Nossa Senhora Aparecida (RENSA) presidiu a Santa Missa na manhã de sábado, na Tenda da Catedral Cristo Rei.
No dia dedicado à Nossa Senhora das Dores, Dom Otacílio proclamou uma rica homilia, abordando três pontos principais, a maternidade de Maria, conforme o Evangelho de São João; as lágrimas de Jesus e os lenços que Maria usou para secar as lágrimas do filho conforme a 1ª leitura ( Hb 5,7-9) ; uma conexão entre a imagem da Mãe Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável e de Nossa Senhora da Piedade. Ao final, ainda deu um testemunho da sua história com o Movimento de Schoenstatt.
Acompanhe trechos de sua homilia:
Maria aos pés da cruz
Eu creio que é um dos evangelhos mais fortes ( João 19,25-27), uma das passagens mais fortes do Evangelho, tanto que depois desta proclamação seria bom que nem houvesse homilia, ficássemos em silêncio, contemplando Maria aos pés da cruz. Maria não arredou o pé, não se acovardou, não fugiu, desde um sim até o último instante, para depositar o corpo do filho no sepulcro. Maria não arredou o pé. Mãe é assim, mãe não foge da luta. Haja o que houver a mãe está sempre do lado, e Maria estava naquele momento crudelíssimo da morte de Jesus. Coração agonizante, coração trespassado pela espada, mas nosso Senhor no alto da cruz, na sua expressão de infinita misericórdia, ainda teve tempo para nos conceder sua mãe, mãe da humanidade, mãe da Igreja, mãe dele, mãe de Deus, mãe da humanidade. Na pessoa de João, Maria nos foi dada como mãe, linda essa passagem: ´Mulher eis aí o teu filho`. Em meio as dores as palavras de Jesus nos dá de presente a sua mãe, Jesus nada reteve para si, tão pouco a sua mãe, Mulher este é teu filho. Veja que ela é a nova mulher, nova Eva, ela assume nossa filiação, ela é nossa mãe. E depois ele fala ao discípulo:´ Essa é a tua mãe´. João, discípulo amado, a leva consigo, olhando Maria como mãe dele, dizendo dele, estamos dizendo mãe da Igreja. Repito, na agonia, na dor, na extrema dor, nós ganhamos este presente divino, a mãe de Jesus é a nossa mãe. Isso é muito importante, Queridos irmãos, queridas irmãs, se há algo que um cristão não pode sentir (…) se há algo que nós nunca saberemos o que é, orfandade divina, orfandade materna. Temos Maria como a nossa mãe. Eu me sinto sempre agraciado, tenho Deus que é pai, tenho Deus salvador, tenho o espírito. Mas Deus é tão bom, tão maravilhoso que ele me deu a sua Mãe.
Presença de Maria na vida do Pe. Kentenich
Essa mãe, foi com certeza a ponte ou o passaporte do reencontro do Pe. José na sua vida, pelo filme que eu vi ( filme que foi passado antes da celebração). Maria teve um papel fundamental na vida do padre José, então José, depois padre. Tão fundamental que ele se tornou padre, e eu vi como ele sofreu gente, e o cristão não está livre das provações, das incompreensões, dos exílios. Eu até perguntei pra Irmã, porque ele ficou exilado. Não foi fácil. A gente fala em Padre José Kentenich e a gente pensa que foi tudo um mar de rosas. Se teve uma coisa que ele não experimentou foi mar de rosas, mas se tem uma coisa que ele experimentou foi o espinho da rosa, o exílio, o campo de concentração. Às vezes nós queremos viver uma fé anestésica, ou uma fé anestesiada, sem problemas, sem provações, sem dificuldades. Não existe seguimento de Jesus, sem o mistério da cruz, por isso Schoenstatt nos presenteia com esta cruz da bi-unidade.
Presença de Jesus na vida de Maria
Eu quero ainda acentuar a presença de Jesus na vida de Maria. A união de Maria com Jesus, à luz desta primeira leitura, essa leitura é de uma extrema beleza. (…) Queridos, Cristo nos dias de sua vida terrestre dirigiu preces e súplicas com forte clamor e lágrimas para aquele que poderia salvá-lo da morte e foi atendido, porque se entregou a Deus. Por que que eu voltei neste versículo? Muito simples, minha mãe, quando viva – porque ela está junto com o Padre Kentenich no céu, desde 1999 – eu era padre novo, e dia de 2ª feira eu ia pra casa visitar a mãe, às vezes tinha problema na paróquia, aí eu tentava disfarçar os problemas, mas aí não tinha jeito. Na 3ª feira ela ligava pro meu irmão e perguntava, ´o que o Otacílio tem? Ele não está bem´. De fato, eu disfarçava e minha mãe percebia. (…) Mãe percebe. O que eu quero dizer é que Cristo nos dias de sua vida terrestre dirigiu preces e súplicas àquele que poderia salvá-lo e foi atendido. (…) Quantas vezes Maria viu Jesus recolhido, com os olhos inchados de lágrimas, quando o povo o ignorava, quando o povo fazia pouco caso das suas palavras, só queria comer e beber. Quando ele apertou e começou a ficar sozinho. Maria com esse olhar caridoso, ela olhava pro filho e dizia: Meu filho, a missão não é fácil, bem que falou aquele bendito Simeão.(…) Tenho certeza que Jesus não ocultou suas dores à sua mãe. Tenho certeza que Jesus muitas vezes deve ter falado assim: ´Mãe, como esse povo é cabeça dura. Mãe, está chegando a hora.
Maria viveu sempre proximidade e separação. Tão próxima, mas ao mesmo tempo a separação. Era da terra e não era da terra. Na cruz, ele era filho e ao mesmo tempo não era, foi tirado. Eu queria que você fosse lá na casa de Nazaré, e contemplasse esta cena : Maria consolando Jesus. Ouvindo os desabafos de Jesus, como Nossa Senhora das Dores . Maria também não teve nada absolutamente fácil, e às vezes a gente reclama tanto. Quero que você contemple Maria preocupada com os olhos lacrimosos do filho. Jesus não veio para uma aventura leviana, veio para o plano divino da salvação. Essa é a segunda mensagem: Maria como Mãe, como co-redentora, participava de cada momento da vida de Jesus.
Nossa Senhora de Schoenstatt e Nossa Senhora da Piedade
Um terceiro momento, que eu quero partilhar, vendo o filme, eu vi umas das cenas mais bonitas deste cenário litúrgico. ( A imagem da Mãe e Rainha ao lado da Imagem de Nossa Senhora da Piedade). Essa é nossa tradicional imagem,( acenando para a Imagem da MTA) tem todo um significado, mas não quero entrar nos detalhes. Maria tem no colo Jesus. Aí você adianta seu olhar ( imagem de Nossa Senhora da Piedade), tem Maria com Ele no colo. Aí vc adianta mais ainda o seu olhar para o céu e tem ela Rainha e o Pe. José está lá, com os santos e santas de Deus, lavou sua veste no sangue do cordeiro, assim cremos. (…) Olha que bonito, a mesma mãe que recebeu uma criança bonitinha no colo é o mesmo que morreu na cruz, padeceu, derramou sangue por nós, que teve o coração trespassado.
Olha que coisa linda, você tinha feito esta conexão? Eu fiz, sentado ali. Um dia ela recebeu a criança e não foi fácil, não foi um parto tranquilo, não foi nada fácil. Ficou perturbada, o anjo teve que acolher suas preocupações. Entre esse momento e antes deste momento ( Maria com Jesus no colo) (…) foi muita noite mal dormida, perturbada. Antes desta cena tem uma história, depois desta cena, tem o crescimento, a vida pública de Jesus. Este espaço também não foi fácil. Aí o Evangelho faz este salto, porque não é bibliográfico, para chegar neste momento ( Imagem de Nossa Senhora das Dores). Bonito fazer esta conexão de Nossa Senhora de Schoenstatt com a Pietá.
Conclusão
Amados irmãos e irmãs, falei então desta maternidade,desta presença de Maria aos pés da cruz, a não orfandade de Deus e da mãe, a humanidade de Jesus, as orações de Jesus, as lágrimas de Jesus, os lenços que Maria usou para secar as lágrimas do filho, depois enxugar o sangue também, é muito forte. E agora essa relação Nossa Senhora de Schoenstatt e Nossa Senhora da Piedade.
Testemunho de sua relação com Schoenstatt
A minha relação e história com Schoenstatt, começou em 1982, quando seminarista em Guarulhos/SP, Padre Lino me levou para Atibaia. Meu primeiro passeio como seminarista foi em Schoenstatt e de lá pra cá, Guarulhos, de modo geral, sempre faz retiro em Atibaia. E llá também que eu fiz mais de 25 retiros, em Atibaia. E é lá que eu fui um dia, estava passando um momento muito difícil, peguei o carro e fui em Schoenstatt ( Santuário de Atibaia) pra falar com a mãe, `Dá um Jeito`. E ela deu. Graças a Deus. Isso foi em 1999. Estava com um problema muito sério e eu conversei com Nossa Senhora e uma luz brilhou, graças a Deus. E foi lá também que no ano passado (2017), eu fiz o meu retiro para bispo. Eu tinha que escolher um lugar, não sei porque, mas eu escolhi Schoenstatt – Atibaia. Não sei por que?! Não sei porque as irmãs cuidaram tão bem de mim, como sempre. E lá eu fiz o retiro, um auto-retiro e graças a Deus meu primeiro retiro para os padres de Guarulhos, esse ano foi lá também. Voltei como bispo em Schoenstatt, em Atibaia, para pregar retiro pro clero de onde eu saí . Mas graças a Deus o retiro foi uma bênção, eu consegui em nome do Senhor, por causa do Senhor, com a ajuda mãezinha, fazer um retiro muito bom.
Dom Otacílio finalizou a homilia dizendo:
“Abra mão de muitas coisas em sua vida, que não valem a pena. Mas nunca abra mão da presença materna de Maria , com Maria nós vamos bem mais longe, tão longe que a gente só pode parar no céu.”
Clique e veja a homilia na íntegra