“Uma cruzada do pensar, amar e viver orgânicos”
“O Resgate do organismo natural e sobrenatural de vinculações.”
No dia 31 de maio de 1949, o padre José Kentenich colocava sobre o altar do Santuário de Bellavista, em Santiago no Chile, a primeira parte da Epístola Perlonga, carta enviada aos bispos alemães, onde o Pai Fundador defendeu o pensar (orgânico) e os princípios da sua fundação contra as objeções da visita episcopal de fevereiro de 1949 em Schoenstatt, na Alemanha. Nesta carta, ele cita que no clero alemão reinava o pensamento mecanicista e isso era um grande risco para a igreja, que desde sua origem era orgânica. Neste dia, o padre Kentenich profere uma homilia no Santuário chileno, algo semelhante a dar um “salto mortal” que resultou no exílio de 14 anos, que quase levou a proibição da Obra.
Na sua homilia ele dizia que:
“(15)O que agora escrevi ao episcopado alemão deverá causar feridas. Neste sentido, caminhamos com grande risco. Quem é que se arrisca a apresentar-se diante das autoridades eclesiásticas da forma como o fazemos por meio deste trabalho tão transcendente? Uma coisa assim pode dar muito maus resultados. Mas quem tem uma missão deve ser-lhe fiel e cumpri-la. Missão de profeta traz sempre consigo destino de profeta. Quem tem uma missão deve permanecer-lhe fiel e entregar-se a ela. Para isso está a grande Obra de Schoenstatt! Vemos o Ocidente cair em ruínas e vemos surgir daqui uma contracorrente. (16) Quando recordo como tudo aconteceu… Tudo é um enorme presente que Deus me deu: a maneira de pensar orgânica, em oposição à maneira de pensar mecanicista. Esta foi a luta pessoal da minha juventude. Nela pude lutar até vencer aquilo que hoje abala o Ocidente até às suas raízes mais profundas. Deus deu-me uma inteligência clara, e por isso tive de passar durante anos por provas de fé. O que me conservou a fé durante todos esses anos foi um amor profundo e cálido a Maria. O amor a Maria oferece sempre, por si só, esta maneira de pensar orgânica.(…) (18) A missão inequívoca de Schoenstatt para o Ocidente, especialmente para a nossa pátria(Alemanha), frente ao coletivismo que avança poderosamente e tudo destrói, encontra-se diante de um muro que só pode ser derrubado, efetivamente e em grande escala, quando o referido bacilo for vencido e afastado. (19) (…) Não nos devemos admirar se isso gerar uma frente de homens cheios de influência, uma frente comum poderosamente unida, contra mim e contra a Família.
(Trechos da homilia proferida no Santuário de Bellavista, 31/05/1949)
Em resumo o pensamento mecanicista separa a razão do coração, a ação do homem da ação de Deus, afastando Deus do dia a dia do homem. Não enxerga o homem como um todo, mas separa seus aspectos intelectuais, emocionais, psicológicos, físicos e espirituais em sua vida. É um pensar desarticulado que separa a pessoa da comunidade e as ações das consequências, fruto do coletivismo e da influência das massas. Quando uma pessoa se deixa levar por ideologias inseridas nos meios de comunicação e não capta o essencial por trás de certas coisas, é como se a pessoa estivesse “no piloto automático”, pensando de forma mecânica.
Já o pensamento orgânico surge como a resposta aos perigos mecanicistas. É um processo natural e livre, que leva a pessoa a pensar e a crescer no amor, não sendo feito por manipulação e nem a força. Este pensamento integra o homem por inteiro, em todos os seus aspectos intelectuais, emocionais, psicológicos, físicos e espirituais em sua vida; vê que as diferenças de cada um em sua forma de pensar, agir, com suas características são necessárias para um crescimento vital, pois se completam, respeitando a contribuição individual de cada um para construção de uma comunidade, igreja e sociedade melhor. É a unidade na diversidade que nos fala São Paulo, a respeito do corpo místico de Cristo, no qual Cristo é a cabeça. São Paulo em sua Primeira carta aos Coríntios nos diz que: “Como o corpo é um todo tendo muitos membros, e todos os membros do corpo, embora muitos, formam um só corpo, assim também é Cristo. (…)Mas Deus dispôs no corpo cada um dos membros como lhe aprouve. Se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Há, pois, muitos membros, mas um só corpo. (…) Antes, pelo contrário, os membros do corpo que parecem os mais fracos, são os mais necessários. (…) Se um membro sofre, todos os membros padecem com ele; e se um membro é tratado com carinho, todos os outros se congratulam por ele. Ora, vós sois o corpo de Cristo e cada um, de sua parte, é um dos seus membros.” (1Cor 12,12-27) Ao pensarmos na Igreja como um corpo, refletimos um pensar orgânico onde todas as ações são articuladas entre si.
Porém os bispos da Alemanha, em 1949, não compreenderam essa pedagogia e recomendaram, à Igreja de Roma, que o Padre José Kentenich fosse afastado da sua obra, sendo exilado por 14 anos em Milwaukee, nos Estados Unidos.
Para a família de Schoenstatt celebrar o dia 31 de maio, dia do seu Terceiro Marco Histórico, tem um grande significado: Celebramos o Corpo de Cristo, formado por Jesus Cristo (a cabeça) e pela Igreja (seus membros), que necessitam viver a urgência do pensar orgânico, onde quem se alegra faz o corpo inteiro se alegrar e quem sofre faz o corpo inteiro sofrer. Por Cristo, com Cristo e em Cristo somos oferecidos todos juntos ao Pai neste dia, como oferta de suave odor, para a transformação da sociedade em um Tabor onde poderemos exclamar: Aqui é bom estar!
Hoje, o Pai Fundador nos pergunta, “Vais comigo?”
O universo, com alegria, dê glória ao Pai, no Espírito Santo, em seu esplendor, louve-o por Cristo e com Maria, agora e na eternidade. Amém. (Rumo ao Céu Ofício de Schoenstatt)
Por Kennedy Rocha
* Kennedy Rocha pertence ao Ramo da Liga de Famílias de Schoenstatt do Santuário Tabor da Liberdade